sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Generosidade é deixar o outro fazer

Children playing in the sand at Lido Beach: Sarasota, Floridaphoto © 1953 Florida Memory | more info (via: Wylio)

Num mundo de tantos desafios e tantas exigências em que somos motivados a ser proativos, ativos, dinâmicos e ser cada vez mais eficiente e estar à frente do tempo, fico me perguntando onde há espaço para generosidade sincera e verdadeira.

Não só no mundo dos negócios, mas também em família, na Igreja, no trabalho voluntário, somos engolidos pela pressa e pelo fazer pelo fazer. Não escutamos, não ensinamos e não deixamos o nosso próximo crescer.

Em toda minha vida, me deparo com pessoas assim, e confesso que devo ser assim também muitas vezes.

Esquecemos que generosidade também é sair de cena e deixar o outro, nosso próximo, fazer do jeito dele. Deixar que o outro experimente o sentido de construir, de ser importante, de ter suas idéias valorizadas.

Não deixamos nossos filhos crescerem, tomarem suas próprias decisões.

Quando ainda era adolescente (põe tempo nisto), li um poema de Gibran Khalil Gibran que dizia assim:

“Vossos filhos não são vossos filhos... Vós sois o arco dos quais vossos filhos, quais setas vivas, são arremessados. O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com Sua força para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe. Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria: Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco, que permanece estável”.

Bem, sempre refleti sobre isto: Precisamos ser generosos com nossos filhos. Não apenas generosos em ajudar, estar ao lado quando está doente, fazer a lição de casa (sempre fiquei horrorizada com as mães que fazem os trabalhos escolares dos filhos), estar junto, presente. É nossa obrigação de pais. Mas precisamos nos colocar nas mãos do Pai, que nos deu esta oportunidade única de lançar ao mundo pessoas melhores, mais humanas, seguras. Precisamos acreditar em nossos filhos, nas escolhas deles. Esta segurança vão adquirir aos poucos, ao deixá-los ajudarem nas tarefas de casa, sem medo do copo quebrado, ao deixar fazer a maquete do trabalho de ciências sozinhos, e por mais desconjuntado que possa ser, valorizar pelo trabalho feito. Orgulho sem pecado.

Enfim, quando nossos filhos crescerem, saberão que foram muito amados e isto os conduzirá a caminhos de verdadeira alegria. E a nós a restará a paz de quem plantou e sabe que a colheita será para alimentar a outros.

É assim o ciclo da vida: Generosa como o Criador que acreditou em nós.

domingo, 14 de novembro de 2010

Misericórdia em Família

Old woman's hands tucked between her legsphoto © 2009 Horia Varlan | more info (via: Wylio)

Durante o ano de 2009, ouvi toda semana a seguinte frase: “Se soubésseis que é misericórdia que quero e não o sacrifício, não condenaríeis os inocentes “ (Mt 12, 7). Assim, padre Júlio Munaro nos questionava em suas aulas na Pastoral da Saúde.

Mas na prática como acontece esta misericórdia? Também fazia outro questionamento: Acaso quando você deixa de ir a Missa para cuidar de uma pessoa na família doente, você não estaria deixando de cuidar de um Deus para cuidar de outro Deus? Forte isto não é mesmo?

Por isto nossa reflexão hoje: Unir nossa família que está passando por um período de graça e que nem sempre conseguimos ver e sentir. É isto mesmo. A graça de Deus que acontece em nossa vida, quando estamos doentes ou quando temos que cuidar de uma pessoa querida que está doente ou que está no final da vida. Se pudéssemos nos deixar levar pela força do amor, viveríamos tempo de paz, de conforto. Nós viveríamos intensamente dias de unidade, de partilha. É claro que há um cansaço, que há desespero, afinal não gostamos de ver ninguém sofrendo. Mas hoje eu não quero falar da graça da cura ou milagre do corpo. Falo da cura e do milagre do coração.

Quando minha avó foi diagnosticada com câncer há três anos, o médico do Hospital do Câncer de Barretos, nos disse: Não há o que fazer, agora ela precisa de qualidade de vida. Na hora pensei naquela loucura. O que será qualidade de vida para quem vai sentir dor e morrer? Depois compreendemos que era estar junto, com alegria. Demos boas risadas com ela. Quando cheguei à casa de meus pais para aqueles que seriam seus últimos dias, estavam todos dormindo no mesmo quarto. Minha avó e meus pais. Depois, chegou meu irmão e nos juntamos a eles. Até hoje sinto aquela paz. Ficamos juntos e nos sentimos livres para amar, sem julgar ou condenar. Esquecemos as tristezas, as mágoas e vivemos intensamente aqueles dias no amor de Deus. Quando padre Ademar disse em sua homilia que Deus nos julga por aquilo que fizemos de bom, pelo lado positivo, compreendi a graça que aconteceu naqueles dias de doença e morte na família.

Que possamos compreender que todos os dias são momentos de reconhecer e nos apropriar da graça de Deus acontecendo em nossa vida e que na doença e na morte ela acontece também.