sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Generosidade é deixar o outro fazer

Children playing in the sand at Lido Beach: Sarasota, Floridaphoto © 1953 Florida Memory | more info (via: Wylio)

Num mundo de tantos desafios e tantas exigências em que somos motivados a ser proativos, ativos, dinâmicos e ser cada vez mais eficiente e estar à frente do tempo, fico me perguntando onde há espaço para generosidade sincera e verdadeira.

Não só no mundo dos negócios, mas também em família, na Igreja, no trabalho voluntário, somos engolidos pela pressa e pelo fazer pelo fazer. Não escutamos, não ensinamos e não deixamos o nosso próximo crescer.

Em toda minha vida, me deparo com pessoas assim, e confesso que devo ser assim também muitas vezes.

Esquecemos que generosidade também é sair de cena e deixar o outro, nosso próximo, fazer do jeito dele. Deixar que o outro experimente o sentido de construir, de ser importante, de ter suas idéias valorizadas.

Não deixamos nossos filhos crescerem, tomarem suas próprias decisões.

Quando ainda era adolescente (põe tempo nisto), li um poema de Gibran Khalil Gibran que dizia assim:

“Vossos filhos não são vossos filhos... Vós sois o arco dos quais vossos filhos, quais setas vivas, são arremessados. O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com Sua força para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe. Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria: Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco, que permanece estável”.

Bem, sempre refleti sobre isto: Precisamos ser generosos com nossos filhos. Não apenas generosos em ajudar, estar ao lado quando está doente, fazer a lição de casa (sempre fiquei horrorizada com as mães que fazem os trabalhos escolares dos filhos), estar junto, presente. É nossa obrigação de pais. Mas precisamos nos colocar nas mãos do Pai, que nos deu esta oportunidade única de lançar ao mundo pessoas melhores, mais humanas, seguras. Precisamos acreditar em nossos filhos, nas escolhas deles. Esta segurança vão adquirir aos poucos, ao deixá-los ajudarem nas tarefas de casa, sem medo do copo quebrado, ao deixar fazer a maquete do trabalho de ciências sozinhos, e por mais desconjuntado que possa ser, valorizar pelo trabalho feito. Orgulho sem pecado.

Enfim, quando nossos filhos crescerem, saberão que foram muito amados e isto os conduzirá a caminhos de verdadeira alegria. E a nós a restará a paz de quem plantou e sabe que a colheita será para alimentar a outros.

É assim o ciclo da vida: Generosa como o Criador que acreditou em nós.

domingo, 14 de novembro de 2010

Misericórdia em Família

Old woman's hands tucked between her legsphoto © 2009 Horia Varlan | more info (via: Wylio)

Durante o ano de 2009, ouvi toda semana a seguinte frase: “Se soubésseis que é misericórdia que quero e não o sacrifício, não condenaríeis os inocentes “ (Mt 12, 7). Assim, padre Júlio Munaro nos questionava em suas aulas na Pastoral da Saúde.

Mas na prática como acontece esta misericórdia? Também fazia outro questionamento: Acaso quando você deixa de ir a Missa para cuidar de uma pessoa na família doente, você não estaria deixando de cuidar de um Deus para cuidar de outro Deus? Forte isto não é mesmo?

Por isto nossa reflexão hoje: Unir nossa família que está passando por um período de graça e que nem sempre conseguimos ver e sentir. É isto mesmo. A graça de Deus que acontece em nossa vida, quando estamos doentes ou quando temos que cuidar de uma pessoa querida que está doente ou que está no final da vida. Se pudéssemos nos deixar levar pela força do amor, viveríamos tempo de paz, de conforto. Nós viveríamos intensamente dias de unidade, de partilha. É claro que há um cansaço, que há desespero, afinal não gostamos de ver ninguém sofrendo. Mas hoje eu não quero falar da graça da cura ou milagre do corpo. Falo da cura e do milagre do coração.

Quando minha avó foi diagnosticada com câncer há três anos, o médico do Hospital do Câncer de Barretos, nos disse: Não há o que fazer, agora ela precisa de qualidade de vida. Na hora pensei naquela loucura. O que será qualidade de vida para quem vai sentir dor e morrer? Depois compreendemos que era estar junto, com alegria. Demos boas risadas com ela. Quando cheguei à casa de meus pais para aqueles que seriam seus últimos dias, estavam todos dormindo no mesmo quarto. Minha avó e meus pais. Depois, chegou meu irmão e nos juntamos a eles. Até hoje sinto aquela paz. Ficamos juntos e nos sentimos livres para amar, sem julgar ou condenar. Esquecemos as tristezas, as mágoas e vivemos intensamente aqueles dias no amor de Deus. Quando padre Ademar disse em sua homilia que Deus nos julga por aquilo que fizemos de bom, pelo lado positivo, compreendi a graça que aconteceu naqueles dias de doença e morte na família.

Que possamos compreender que todos os dias são momentos de reconhecer e nos apropriar da graça de Deus acontecendo em nossa vida e que na doença e na morte ela acontece também.

domingo, 24 de outubro de 2010

Humildade que Eleva

Leia, antes, Lc 18, 9-14.

Ao fazer bem mais do que pediam os preceitos da lei de Deus, o fariseu mencionado no evangelho tinha ótimas intenções. Mas, ao se considerar melhor que todos os outros, ele ignorava uma das essências dessa mesma lei: a compaixão que gera fraternidade. Julgando-se melhor que os demais, em sua arrogância ele só conseguia criar separação.
Jesus, ao invés, exalta o cobrador de impostos, pessoa odiosa aos olhos dos judeus por colaborar com a dominação romana. É ele que voltou para casa justificado. É ele que conseguiu demonstrar, com sua oração, a verdadeira atitude religiosa, o genuíno modo de se relacionar com Deus. Pois, se temos algo a apresentar a Deus, são nossas próprias misérias e nossa esperança de que ele nos perdoe.
Aquele cobrador, com sua súplica penitente, acaba ensinando que a justiça de Deus não se baseia no julgamento ou na condenação, e sim na misericórdia. A mesma misericórdia que Jesus mostrou, sobretudo pelos pequenos e fracos, por aqueles que a sociedade hipocritamente condenava como pecadores.
O modo como nos relacionamos com Deus tem que ver com o modo como nos relacionamos entre nós. Somos assim questionados sobre nossa oração e sobre nossas atitudes com relação aos demais. Pôr-se no lugar do outro para ajudá-lo a se levantar das fraquezas físicas e morais é já bastante. Mas só consegue isso quem reconhece as próprias misérias, quem dá espaço para que a graça de Deus possa agir.
Quando acreditamos ter algum mérito diante de Deus, não conseguimos ir além daquilo que nós mesmos chamamos de justiça. Quando, ao invés, nos sentimos perdoados por ele e sabemos que de nada somos merecedores, podemos experimentar o favor divino. Pois é no amor gratuito que encontramos a própria justiça de Deus. E a porta para isso é a oração humilde, como escreveu santa Teresa de Ávila: “O fundamento da oração é a humildade, e quanto mais uma alma se abaixa na oração, mais Deus a eleva”.
Pe. Paulo Bazaglia, ssp

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O que é humano para você?



Ontem a noite estivemos nas Paulinas para o primeiro dia do evento Arquidiocesano da Semana da Vida.

A noite começou com a pergunta de Irmã Ivonete para nós: O que é ser humano para vocês? E que completou pedindo que escolhessemos três palavras que definessem humano e déssemos uma nota para nós mesmos nestes quesitos escolhidos.

Pois bem, quero partilhá-los com vocês hoje. E espero que partilhem suas respostas conosco também.

A primeira palavra que veio a cabeça foi: Vida

E me dei uma nota 7. Fiquei me perguntando: Se vida é um dom de Deus, o que tenho feito de minha vida. Tenho priorizado as coisas realmente importantes? Tenho cuidado de minha saúde como devo? Confesso que tenho deixado a desejar neste quesito. A gente entra num ritmo maluco de viver e não prestamos atenção nos sinais do tempo. Sinais de que Deus está agindo em nós o tempo todo e nós estamos em contínuo crescimento. O amadurecer é isto. Se renovar a cada dia.
Somos como o dia que amanhece e a noite que vem lentamente nos convidando ao repouso. E fazemos coisas diferentes no dia. Porque será então que insistimos em sermos iguais? Por que relutamos em fazer diferente? Em crescer e amadurecer? O dia é a prova disto. Podemos fazer coisas diferentes, cada qual a seu tempo, e mantendo a mesma essência que somos o tempo inteiro.

Esta essência é o segundo ítem que respondi a pergunta de Irmã Ivonte: Amor


Vou confessar que me dei uma nota 9, mas alguém do meu lado (não vou dizer quem, mas é óbvio) disse que tinha se dado umas notas baixas. Aí fiquei envergonhada e me dei 8... bem não tão envergonhada assim, né?
Mas sabe o que é? Sou uma pessoa apaixonada pela minha família. Por todos! sou apaixonada pelos meus amigos também. Só não dei 10, porque tenho algumas coisinhas lá dentro mal resolvidas. E isto tem haver com perdão. Como é difícil a gente perdoar aquelas pessoas que agem diferente da gente. Só Deus mesmo para nos ajudar. Tem umas pessoas que incomodam não é mesmo? Na teoria sei que são pessoas importantes para o meu crescimento espiritual e como pessoa. Mas a gente fica agarrado às dificuldades. A uns carrapichos da mágoa, do despeito e do orgulho. Agora lembrei que muitas vezes sou distraída e não percebo meus amigos a minha volta e não sou presente quanto merecem e precisam. Pensando bem um 7 seria mais justo.

A terceira palavrinha que me veio foi União.

Humano é união. Nota 7, sem pensar muito. Há muita coisa que eu poderia ajudar mais, dar um novo sentido à vida das pessoas a minha volta. Ser mais envolvida em suas dificuldades.
Todos nós, sem excessão somos dependentes uns dos outros. Ninguém vive só. Deus nos fez numa família para nos ensinar a viver junto, do jeito que somos, com o olhar que temos perante aos acontecimentos. E quantas vezes não estendemos nossas mãos ao outro porque não concordamos em ser ajuda a quem é diferente. A quem fez escolhas diferentes da nossa.
E surpreendentemente não pensamos que para chegar ao trabalho, a escola e até ao permanecer em casa, precisamos de outros.
Irmã Ivonete terminou a noite de ontem, ao falar em Ecologia Humana, falando em comunhão.
Ela foi além da minha dedução.

Encerro meu pensamento com um pensamento de Jonh Donne(poeta inglês):

"Nenhum homem é uma ilha, completamente isolado. Cada homem é um pedaço do continente, uma parte do todo. Se um torrão for levado pelo mar, a Europa ficará menor, não importa se for um promontório, a casa do seu amigo ou a sua própria. A morte de cada homem me diminui, porque sou parte da humanidade."



terça-feira, 3 de agosto de 2010

Com a proximidade da Semana da Família, é um texto bem adequado que deve ser partilhado, principalmente com nossos jovens.

do site da Canção Nova...

Formações

Imagem de Destaque

Casar em tempo de crise?

'Acreditar na Família é construir o futuro'

Nesses dias eu e meu noivo participamos de um programa na televisão [TV Canção Nova], no qual testemunhamos nossa história e anunciamos a data do casamento. Como era um programa interativo no qual também respondíamos a perguntas dos telespectadores, uma das questões me faz escrever este artigo. O internauta nos perguntava como tínhamos a coragem de nos casar em tempo de crise? Diga-se de passagem, aqui na Europa se vive hoje uma das maiores crises econômicas da história. No programa deixei que meu noivo falasse, já que em questão de economia eu não vou longe e é justamente a área dele. A resposta dele não poderia ser melhor, e eu a apresento, pois acredito que poderá ser uma direção de Deus para a vida de muita gente no dia de hoje.

Ele respondeu assim: "Vamos nos casar em tempo de crise, porque nossa segurança não está nas finanças deste mundo, e sim, em Deus. Hoje temos a certeza de que Deus nos chama a assumir a vocação do matrimônio e acreditamos, pelos frutos da nossa história, que está na hora de darmos este passo. Mas se não avançamos por medo da crise que testemunho de fé estamos dando? Deus é fiel e não nos deixará faltar o necessário, a experiência que fazemos dia a dia nos dá esta certeza. É por isso que vamos nos casar mesmo em meio à crise econômica. Nossa confiança está no Senhor!"

Além de concordar plenamente com a resposta de meu noivo, eu a completo afirmando que, ao assumirmos a vocação do matrimônio, estamos, antes de tudo, correspondendo ao projeto de Deus para este mundo: a formação de famílias cristãs. Creio que a família é a instituição bendita e querida pelo Senhor desde sempre, tanto assim, que Ele mesmo escolheu vir a este mundo por intermédio de uma família. Mas é principalmente nesta época em que, além da crise econômica, sofremos também as consequências da crise de valores, de identidade e tantas outras que Deus Pai conta com a colaboração dos que são chamados à vocação do matrimônio para dar continuidade ao Seu plano de amor neste mundo.

Acredito que a família é o maior investimento da sociedade! Mesmo agredida por tantas forças sociais, muitos a levam em consideração porque sabem qual é o valor dela. João Paulo II, com razão, afirmou tantas vezes: "Acreditar na Família é construir o futuro".

Nossa fé tende a amadurecer e a nos comprometer. Se compararmos a família a uma árvore, lembramos que é próprio desta dar frutos, e estes, por sua vez, trazem sementes para que, lançadas ao solo, possam germinar e crescer. Eu que sou fruto de uma árvore frondosa: minha família, acredito que chegou o tempo oportuno de lançar a semente em terra e deixá-la germinar, nascer, crescer e frutificar.

Ainda em relação ao tema que me levou a escrever, acredito que já esteja claro. Se colocarmos nossa confiança na economia deste mundo, realmente não será tempo para casar; aliás se pensarmos assim, quase nunca será o tempo de dar passos como este. Mas se somos cristãos e queremos corresponder aos desígnios do Senhor, não podemos parar diante dos obstáculos.

É preciso unir a fé a razão e seguir em frente! Ser coerentes e responsáveis com os compromissos que assumimos, sim, mas sabendo que nossa confiança não pode estar centrada nas seguranças humanas.

O emprego que temos hoje poderemos perdê-lo amanhã, neste mundo tudo é passageiro e a nossa confiança em Deus é fundamental para alicerçarmos qualquer decisão, também com relação ao casamento. A Palavra do Senhor diz: "Confia no Senhor de todo o teu coração e não te apoia no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas" (Provérbios 3,5).

Acredito que nossa vocação primeira é amarmos e sermos amados. Portanto, amemos com profundidade, correspondendo a este chamado divino para que nossa vida seja fecunda e feliz e não tenhamos medo de dar frutos.

Estamos juntos!

Foto

Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com
Dijanira Silva Missionária da Comunidade Canção Nova, em Fátima, Portugal.

Trabalha na Rádio CN FM 103.7

Marcos e Herminia

“Família, formadora de valores humanos e cristãos”


terça-feira, 20 de julho de 2010

Pedido dos Filhos - Dom Orlando Brandes

Participamos no final de semana do Congresso Estadual da Pastoral Familiar em Campinas.
Entre momentos de muita luz, Dom Orlando nos deixou o seguinte recado:


Pedidos dos filhos

Dom Orlando Brandes - Arcebispo de Londrina




Os filhos pedem a seus pais e educadores vinte solicitações:




1. Não tenham medo de ser firmes comigo. Sua firmeza me dá segurança.


2. Não me tratem com excesso de mimo. Nem tudo o que eu peço me convém.


3. Não me corrijam na frente de outras pessoas. Isso me revolta.


4. Não permitam que eu forme maus hábitos. Dependo de vocês para saber o que é certo e o que é errado.


5. Não façam promessas apressadas. Sinto-me mal quando as promessas não são cumpridas.


6. Não me sufoquem com suas preocupações. Eu também preciso aprender com o sofrimento e com os erros.


7. Não sejam falsos comigo. A falsidade faz eu perder a fé em vocês.


8. Não me incomodem com ninharias. Irei fazer-me de surdo.


9. Não dêem a impressão de serem perfeitos, infalíveis. O choque será muito grande quando eu descobrir seus defeitos.


10. Não deixem sem respostas minhas perguntas. Do contrário, deixarei de fazê-las e buscarei informações em outros lugares.


11. Não se sintam humilhados ao ter que pedir desculpas. O perdão me aproxima de vocês.


12. Não digam que minhas preocupações e problemas são tolices. Tentem compreender-me. Ficarei mais sereno.


13. Não esqueçam que estou crescendo e mudando rapidamente. Tentem acertar o passo comigo.


14. Não me comprem presentes. O melhor presente é a presença de vocês. Com vocês sinto-me seguro, forte, amado.


15. Acolham-me desde a fecundação, alimentem-me com aleitamento materno, dêem-me colo, toquem-me porque preciso de tudo isto para crescer saudável e equilibrado.


16. Preciso de um pai forte e amigo, de uma mãe equilibrada e feliz. Seu jeito de ser é que fica marcado em mim. Poderei esquecer suas palavras, não esquecerei seus gestos.


17. Não imponham nem direcionem minha profissão e vocação. Podem aconselhar-me, mostrar-me suas razões, mas deixem-me a liberdade de escolher.


18. Se vocês se amam eu me sinto amado por vocês. Se vocês brigam, não dialogam, não se perdoam, eu me sinto um órfão de pais vivos.


19. Porque vocês foram fracos no bem, eu agora sou forte no mal. Se vocês são pais despreparados eu cresço desequilibrado.


20. Se vocês não me elogiarem, se me castigarem injustamente, se não me ensinarem a rezar, se satisfizerem todos os meus desejos, vocês estragam minha vida.




Os filhos aprendem imitando. Daí a necessidade do casal se querer bem e dar bom exemplo. Dizia um filho aos pais: "peço que vocês me amem quando eu não mereço, porque é aí que eu mais preciso ser amado." Nada disso é fácil. O nascimento dos filhos traz grandes mudanças na família. Os cônjuges esquecem de ser esposos, trocam os papeis, e começam a ser somente pais. Apegar-se aos filhos e esquecer o cônjuge é um perigo. O primeiro amor na família é sempre o amor conjugal, depois o amor filial.


Além disso, temos pais agressivos e pais permissivos, mas precisamos de pai e mãe participativos. Os pais apegados aos filhos sofrem demais quando eles devem deixar o lar. Os desequilíbrios dos filhos levam ao desajuste do casal e vice-versa. Os pais conscientes tratam os filhos conforme a idade que eles têm. É preciso saber mudar de marcha. Pais ajustados, filhos equilibrados.


Um filho escreveu para seus pais: "Eu sou forte no mal porque vocês foram fracos no bem. Por isso estou preso". Os pais nunca podem abdicar do diálogo, devem estar abertos em buscar soluções e aceitar ajuda. Ninguém é infalível. Os pais aprendem com os filhos, mas devem sempre colocar limites e apresentar valores. Lares sem disciplina criam filhos folgados e onipotentes que se tornam delinqüentes. É a tirania dos filhos sobre os pais.


Temos hoje a "família filiarcal" que sucedeu à família matriarcal e depois à patriarcal. Filiarcalismo é fazer dos filhos pequenos deuses. Eles não ajudam em nada nos trabalhos da casa, deixam roupas sujas em cada canto, só comem o que querem, dominam os pais que se tornam seus escravos e reféns. Pais permissivos são mais prejudiciais que os autoritários.




Os filhos emitem sintomas que sinalizam a presença de problemas familiares. Quando os pais vão mal os filhos entram em ansiedade. Hoje a grande tentação é resolver as crises com o "divórcio fácil". É preciso crer nas soluções, na reorganização da família. O filho problema pode tornar-se o melhor. A ovelha negra se torna uma benção, quando recorremos a Deus, ao perdão, ao diálogo, à disciplina. Quem olha as soluções não cai nas acomodações. Os heróis se forjam nas carências e crises.


A arte de ser bons pais começa já no útero materno. A preparação para a missão de ser pai e mãe é assunto do namoro e noivado. Pais despreparados, filhos desequilibrados; pais ausentes, filhos delinqüentes; pais permissivos, filhos onipotentes; pais omissos, filhos rebeldes. Carregamos dentro de nós a criança que fomos no passado. Vale a pena investir no casal para que os filhos cresçam sadios, seguros e amorosos. A família é a esperança da sociedade e o futuro do mundo.


terça-feira, 8 de junho de 2010

Tempo de namorar




Tempo de Namorar




O batimento descompassado do coração, uma certa ardência no rosto e uma ansiedade na alma pode ser sintomas de um proeminente ataque do coração, mas na verdade é uma deliciosa sensação que experimentamos ao ver a pessoa que nos interessamos chegar. Mas será que estou falando de algo que não mais sentimos? Será que hoje ainda ao ouvirmos uma música nos lembramos da pessoa amada? Guardamos o papel da primeira bala, o ticket do primeiro cinema junto? É romantismo ultrapassado?

Muitas vezes embalados pela pressa do tempo em tudo ter e pouco ser, em superar limites e alcançar grandes vôos, época de fast foods, perdemos o saborear das descobertas, dos sentimentos singelos que levam uma vida toda para ser apreciado em meio a tudo que acontece no mundo e a nossa volta.

Nós, pais modernos, deixamos nossos filhos muito pequenos serem bombardeados pela massa sensualizada das músicas, das novelas, da nossa falta de paciência. As crianças entram na maternal e perguntamos: Quem é seu namoradinho? Ela vai crescendo e começam as preocupações e as proibições que sem perceber perdem espaço ao conformismo e a falta de senso crítico...

Se buscamos sucesso profissional e financeiro, buscamos o sucesso amoroso também. Então nas baladas, nos enchemos de energéticos para não dizer outra coisa, e testamos todas meninas e todos garotos. É o ficar descompromissado, nem sempre inconseqüente. É do ficar do beijo ao ficar do sexo. Puro prazer, vazio de amor. Pior, vazio de amor próprio.

O tempo de namorar começa na adolescência e nunca termina. É o segredo daqueles que usaram o tempo de conhecer o outro com objetivo de construir uma vida. Vida que tem dores e desencontros, mas que tem porto seguro, mão estendida e beijo velado. Simples cumplicidade. É não estar só, porque mais que trocar beijos e desejos, é trocar sonhos e anseios.

O meu desejo é que todo dia seja dia de namorar. Namorar que é conhecimento, que é conquista de si e do outro. Que é preparação para uma vida junto, construída todo dia, dividindo as dores e multiplicando as alegrias.



segunda-feira, 3 de maio de 2010

Todos a Aparecida!

Nenhum trabalho pastoral pode ter sucesso se não cuidar, também, da oração. É na oração, quer particular, quer comunitária, que nos renovamos espiritualmente e alimentamos nossas forças para enfrentarmos os problemas e desafios apresentados pelo serviço à Igreja. Com a Pastoral Familiar não é diferente, e está se aproximando um dia especialmente programado para sua oração.

No próximo dia 30 de maio, a Pastoral Familiar promove a 2ª Peregrinação Nacional das Famílias. O Santuário Nacional de Aparecida foi novamente escolhido para acolher o evento, tanto por ser centro de devoção mariano, como pela sua importância na religiosidade no cenário brasileiro.
O objetivo da 2ª Peregrinação Nacional das Famílias é incentivar o anúncio do Evangelho na Família e reafirmar o seu valor e a sua identidade, baseados no casamento aberto ao serviço em favor da vida. A peregrinação tem duas linhas gerais de ação: promover o respeito à vida humana e valorizar a família no seio da Igreja, da cultura e da sociedade civil.

A 2ª Peregrinação Nacional das Famílias, cujo tema é “Família, Formadora de Valores Humanos e Cristãos” visa fortalecer a família como lugar onde se aprende a viver verdadeiramente, a valorizar a vida e a saúde, a liberdade e a paz, a justiça e a verdade, o trabalho, a concórdia e o respeito e quer, também, explicitar a familia como o espaço mais eficaz para se introduzir os valores humanos e cristãos.

As coordenações arquidiocesana, regionais e paroquiais da Arquidiocese de São Paulo foram convocadas para levar um grande número de peregrinos, pois estamos bem próximos de Aparecida. Nossa paróquia pretende comparecer com uma caravana de dois ônibus. O transporte será subsidiado pela Pastoral Familiar e a inscrição custará R$ 15,00, preço da camiseta alusiva ao evento e que todos os peregrinos deverão vestir. As inscrições podem ser feitas na Secretaria da igreja ou pelo site www.paroquiasantateresinha.com.br, onde também se encontra o programa completo e maiores informações.

Esperamos vocês!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Defesa da Vida



Adoro ficar observando a natureza e tudo que nela há. Se vou a praia, posso ficar um tempão sentindo a brisa do mar. Se vou para o interior, é um delícia o perfume do Manacá, o burburinho das maritacas na jabuticabeira. Aliás, falando em jabuticabeira, outro dia que fui a casa de minha mãe em Minas. Era o final da época e tinha umas últimas jabuticabas no alto do pé. Já era o entardecer e não tive dúvidas. Subi no pé para apanhar algumas. Não é que as galinhas do vizinho começaram a empolerar no pé e queriam que eu descesse. Dei risada sozinha. Galinha chata que não sabe que é proibido criar galinhas na cidade e ainda mais invadir o quintal da vizinha.

Mas isto tudo que estou falando, são alguns sinais de que vivemos e moramos num planeta que é Vida. Hoje em dia então, até as empresas estão preocupadas com a sustentabilidade. Até bancos que te cobram por tudo, e só vêem cifrão quando te olham, vem com a história de papel reciclado. Como se apenas isto salvasse a humanidade. Ou melhor, que isto fosse por si só preservar o Planeta.

É tudo louvável e importante, sem dúvida. E graças a Deus que hoje começamos a ter esta consciência. Mas vamos pensar com simplicidade: A natureza responde aos maltratos que nós, homens, fazemos a ela? Quanto mais a nós mesmo.


Há tanta preocupação em melhorias e muitas vezes nos perdemos no caminho verde, e esquecemos que o primeiro a ser salvo de nós mesmo, somos nós. Esquecemos que a maior riqueza que Deus nos deu em forma de dom é a Vida. A própria Vida do ser humano. Com discurso fraco de que somos donos de nosso corpo, muitos lutam pelo aborto. Sei que é tema polêmico. Mas o direito a vida é de todos. Não somos senhores do nosso próprio corpo. O novo ser que nasce dentro de nós mulheres, é fruto da lei natural. É novo DNA. Uma nova personalidade. Espere só nascer para ver como é senhor do próprio nariz. Ainda no ventre materno age de maneira totalmente diferente do irmão. E do irmão do mesmo pai. Até gêmeos são diferentes.

Tive a felicidade de ser mãe três vezes. Cada gestação, uma reação, um mexidinha diferente. Um sentir totalmente novo.


Em março participamos da marcha em Favor da Vida. Reunimos 15 mil pessoas de várias religiões. Uma passeata ecumênica. Foi um dia lindo. Só para dizer que estamos na luta para defender a Vida em toda circunstância.



Vamos ficar atentos a toda defesa da Vida e muito especialmente ao ser humano. Que ele seja sempre defendido e que não nos deixemos ser levados a corrida maluca de cientistas que muitas vezes brincam de ser deuses em vez de efetivamente defender a Vida. Vida em plenitude, Vida em toda e qualquer circunstância.


sábado, 20 de fevereiro de 2010

A família ideal


Quantos questionamentos podemos fazer a partir desta frase: Família ideal.

Penso que todos nós idealizamos uma família. Desde pequenos queremos que nossa família seja a mais legal, a mais bonita e a mais bem sucedida. E quando entramos na escola, bem pequenos, começamos a achar que a família do amiguinho é muito melhor que a nossa. Na adolescência é a mesma coisa, ou pior ainda: Somos inclinados a achar que família é um porre e que se o mundo fosse povoado somente por amigos, seria um paraíso. Passada a fase da juventude em já nos tornamos auto-suficientes e os supra-sumo do conhecimento, família passa a ser um enfadonho compromisso nos aniversários e compromissos sociais.
Então nos casamos e vem os filhos. - Nossa! Como pode ser? Eu cheio de boa-vontade e conhecimento e o filhinho do meu amigo é muito mais educado. Meu filho só chora, faz birra e quer tudo o que vê no shopping. Fico pensando em como ele pode ser mal agradecido quando trabalho de domingo a domingo para dar comida, escola, brinquedos caros, etc, etc. O problema é da minha mulher que não cuida direito da educação e ainda vem a mãe dela dar palpite.
...E ela pensa exatamente como ele. É tudo culpa do folgado que não ajuda em nada em casa. Vou me separar porque sozinha conto comigo mesma e vai ser muito melhor.
O casal se separa, casa de novo e nada das coisas melhorarem...

E voltamos à família ideal. Onde está, e como é esta família? Existe mesmo?

Dom Joaquim Carrera nos alerta que a família ideal é onde todos se esforçam para se amar e se respeitar.
A possibilidade, então, da família ideal deixa de ser do outro e passa a ser minha. A partir do meu Encontro com Deus, em que O escuto e deixo que Ele opere em mim sua vontade. Da minha fé.

Olhar o outro com olhos de amor, de aceitação. É óbvio que podemos expressar nossas emoções e muitas vezes corrigir o rumo de nossas vidas. Mas com compreensão, com amor. É um exercício diário e constante. Difícil. Um dia mais atento, no outro nem tanto, mas certos de que nas mãos de Deus tudo podemos.

Acabo de me lembrar de uma passagem que Santa Teresinha relata no livro História de uma Alma. Ela conta que tinha uma freira no convento que ela não gostava muito e que era recíproco, porque a freira também não gostava dela. E um dia por inspiração de Deus ficou pensando sobre sermos criados a imagem e semelhança de Deus. Como podia aquela freira ser a imagem de Deus? Mas Teresinha se auto-propôs um exercício: Ao olhar para aquela irmã sempre veria a face de Deus. E assim fez. Sempre que passava com ela, se esforçava para ver a Imagem de Deus e sorria para ela, cumprimentava, respeitava. Ela se esforçou em amar e respeitar e a relação das duas mudou.
Acho que é isto que Dom Joaquim quis nos dizer no encontro de formação nas Paulinas na última quinta-feira (18/02/10): A família ideal é onde todos se esforçam para se amar e respeitar.

E fica a pergunta: Quanto estou me esforçando para minha família ser melhor?

Os encontros com Dom Joaquim sobre Pastoral Familiar acontece dia 24/02, 03/03 e 18/03. Às 19:30h no auditório das Paulinas na Ana Rosa. Estão todos convidados!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Quando nossos filhos casam.


Muitas vezes precisamos experimentar certas situações para entender o plano de Deus. Bom seria se fosse diferente, mas a vida é assim.

Por isto, hoje estou pensando nos pais que tem seus filhos crescidos e que irão se casar. Então me veio a mente esta passagem da Bíblia: ... o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne (Gn 2,24).

E por que estou pensando nisto? Simplesmente porque tenho mais uma filha se casando e nós pais desejamos do fundo do coração que nossos filhos sejam os mais felizes e os mais bem sucedidos na vida. E ainda temos a ousadia de achar que temos todas as respostas e todos os caminhos para felicidade deles. Certamente não lemos a Bíblia, ou não entendemos projeto de Deus e ainda esquecemos do nosso passado de recém-casados.

Nós pais precisamos entender que agora chegou o tempo de realizar a obra de Deus e que no casamento serão uma só carne, ou seja, inicia a vida familiar deles. Haverão momentos de divergências e ajustes. Eles casam com uma bagagem grande demais e aos poucos vão ajeitando tudo conforme a sua vontade. Casam com nosso jeito de ser, com as experiências vividas, com os sonhos, com as frustrações que carregam desde o berço. Esta é a bagagem deles que terão de arrumar, moldar e fazer caber na nova casa. Pode até ser que algumas coisas deixarão para trás...mas nós já mais velhos, não gostamos de jogar nada fora né? Tantos apegos...

E ai vem Deus e diz o impensável, como será que Ele ousou dizer: Deixará pai e mãe...

Nós não fomos preparados para este momento: Mas são meus filhos! Mas coitadinha de minha filha, como vai dar conta sozinha da casa e trabalhar? Nossa! O que ganham não vai dar para despesas, é melhor fazerem compras no mercado X. Mas as roupas dele eu lavava com amaciante Y e agora ela quer K. Não! O meu feijão deixo de molho na véspera. Como? Não tem feijão? Ele vai emagrecer, vou fazer pelo menos almoço todo domingo para eles. Só quero ajudar.

E assim, a lista de coisas a se intrometer vai ficando grande.

Vou repetir: "Deixará pai e mãe".

Aqui começa o projeto de vida a dois. E este projeto é Divino e deve ser eterno. A novidade para nossos filhos é muito maior do que para nós. Agora nos resta confiar naquilo que plantamos. É a hora do maior exercício de amor: Aceitar os projetos deles. Aceitar o jeito deles construírem seu lar. Apoiá-los nas decisões, nos erros e nos acertos. Estar ao alcance deles sempre que precisarem e sem o velho e inconveniente "mas eu sabia ou eu avisei".

E Deus é mesmo maravilhoso para conosco: Nossos filhos se casam, não farão mais parte do nosso dia a dia em casa. Mas nos deixam momentos único gravados no coração (nascimento, primeiro dia das mães, dos pais, primeira cartinha, as bagunças e farras são histórias engraçadas, formatura, etc).

Mas levam consigo muito de nós. Desde DNA até certas manias. E quando chega o momento certo vem os netos para nos dar a possibilidade de nos renovar, amar e mimar.

E agora que nossos filhos cresceram, chegou o tempo de alegria e reviver nossos momentos de vida a dois.
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Deus seja sempre louvado!



terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Diferença entre Casamento e Matrimônio

Todos dizem que um dos grandes problemas atuais é a criação de crianças e jovens em famílias não estruturadas. A eles faltam as referências de virtudes e valores transmitidos, ensinados e praticados no relacionamento sadio entre pai, mãe e filhos.

Uma boa maneira de iniciar uma família bem estruturada é com o matrimônio, não o casamento. Muitos casais hoje “se juntam”, casam com a perspectiva consciente ou inconsciente do “se não der certo, separo”. Estão casando-se com seu projeto de vida, com seu egocentrismo, com a busca egoista da sua felicidade. E isto ocorre, inclusive, na maioria dos casamentos celebrados na Igreja, que não são válidos como matrimônio diante de Deus, pois não existe o “sacramento do casamento”.

Cristo nos oferece o sacramento do matrimônio, onde “o homem deixará seu pai e sua mãe, e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne” (Mt 19,5; Mc 10,7; Ef 5,31; Gn 2,24). Ser uma só carne significa doação integral, projeto de vida comum, geração, criação e educação dos filhos e conquista da felicidade na busca da felicidade do outro. E mais: no sacramento convidamos Cristo a fazer parte do nosso matrimônio, que passa, na verdade, a ser a três: marido, esposa e Deus.

Convocamos os casados a assumirem seu matrimônio. Os que se juntaram, venham à Igreja e procurem o Sacramento do Matrimônio. A Pastoral Familiar pode orientar e ajudar vocês. Os que se “casaram na igreja”, renovem seu compromisso matrimonial. Mesmo um matrimônio inválido no momento de sua celebração pode ser convalidado por uma vida de testemunho e dedicação de um cônjuge para o outro e para os filhos.

Aos jovens, já a partir da adolescência, convidamos a conhecer o sacramento do matrimônio e refletir sobre a família e temas ligados, tais como castidade pré-matrimonial, procriação e bioética, criação dos filhos, planejamento familiar, contracepção e outros. Fiquem atentos, pois a Pastoral Familiar, em conjunto com outras pastorais da nossa paróquia, vai oferecer palestras, cursos e outros meios para ajudá-los nesta empreitada.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Amar sem gostar?

Neste meu permanente processo de conversão, tive muitas dificuldades quando deparei com o principal mandamento – "Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento” (Mt 22,37). Minha dúvida elementar, igual à de tantos outros, era como amar tão profundamente alguém que eu não via. Quando, então, colocava Deus junto dos meus entes mais queridos – minha esposa, meus filhos, meus pais – e comparava o amor que sentia por cada um deles, me perguntava: - Como amar Deus mais que eles?

Passei a procurar a resposta onde ela deveria estar – na sagrada escritura, e perguntando, aqui e ali, a pessoas de vivência na fé mais profundas e mais antigas que a minha. Antes que esta resposta fosse gerada em mim, ainda me perturbei mais ainda, ao ler Lc 6, 27-36. Cristo ali pede, com todas as letras, sem margem para outras interpretações, que amemos nossos inimigos, que falemos bem de quem fala mal de nós, que oremos pelos nossos caluniadores, que demos o que temos para quem nos pedir e até a quem nos toma, que revidemos à bofetada ofertando a outra face! Como é possível isto? Como eu vou amar, como eu vou gostar de alguém que me deseja ou faz o mal?

Levou alguns anos, mas descobri qual era meu erro. Eu achava que para amar era necessário gostar. Ou seja, que o amor dependia de uma emoção, de um sentimento (gostar). Nós não dominamos nossos sentimentos, podemos, quando muito, controlá-los. E as experiências cotidianas mais marcantes que temos do amor – para com nossos filhos, para com nossos pais, passam pelo gostar, e nos fazem confundir gostar com amar.

Sendo o amor a maior de todas as virtudes, o maior bem legado por Deus a nós, o motivo pelo qual Jesus se entregou para ser imolado, não pode ele depender de um mero sentimento. Ele tem que ser fruto do livre arbítrio que Deus nos concedeu, fruto de nossa vontade, de nosso pensar, para ser modo de nosso agir. Assim, o verdadeiro amor é fruto da razão, permitindo-se temperar pelo sentimento, mas predominantemente guiado pela nossa vontade. Pode, então, ser apresentado, primeiramente, na forma de respeito à dignidade do próximo, seja ele quem for e, quando mais desenvolvido, pela compaixão, a forma preferida de Jesus para manifestá-lo, e pela misericórdia, ato com que constantemente Deus Pai demonstra seu infinito amor para conosco.

É na família que podemos mais rápida e facilmente descobrir este verdadeiro amor. É ela o ambiente propício para que a criança, o jovem e o adulto aprendam e desenvolvam o respeito ao próximo e suas coisas, a solidariedade, a partilha, a ajuda, o perdão, o carinho, a compaixão, a misericórdia, todas estas manifestações concretas do amor. E é assim que o amor a Deus, obrigação primeira de qualquer cristão, traduz-se no amor ao próximo, pois Deus já tem tudo, de nada precisa, e se alegra quando vê a atitude amorosa de um irmão pelo outro.